quarta-feira, 17 de abril de 2013

Pr. Rivail Sousa
www.abtac.com.br

A natureza do pecado  

            Por natureza do pecado, segundo se diz, se entende como sendo “qualquer falta que fere a santidade de Deus”, quer em ato, atitude ou estado, ou natureza. As Escrituras põem em relevo dois pontos principais ou qualidades morais: a santidade e seu antagonista, o pecado. Pode se dizer que, na esfera moral, o primeiro corresponde ao bem e o segundo ao mal. Todos os demais princípios e qualidades morais podem ser classificados de maneira a se identificar com um desses dois grupos. E por isso mesmo o pecado, como sua “antítese”, recebe na bíblia atenção ampla e adequada. Em seu escopo geral, sem nenhuma exceção, as Escrituras descrevem o pecado como sendo de natureza má em todos os seus aspectos.

A ideia bíblica do pecado  

            A Bíblia se utiliza de diversos termos para referir-se ao pecado, dentre os mais comuns destacamos os seguintes:


Os termos mais usados no Antigo Testamento  

            Chattath. A palavra usada com muita frequência no Antigo Testamente é chattath conforme pode ser visto em Êxodo 32.30, seu termo correspondente no Salmo 51.9 é chet. Este termo pode ser visto centenas de vezes em todo Antigo Testamento e expressa a ideia de errar o alvo, como arqueiro que atira mas erra,  ou ser achado em falta, ou ainda um viajante que erra o caminho. Geralmente usado para expressar o pecado no âmbito moral.

            Pescha. Outro termo usado para descrever o pecado é pescha e pode ser visto em Provérbio 28.13 expressando a ideia de rebelião ativa contra a vontade de Deus. E esta é a proposta do pecado, levar a humanidade a se opor a seu Criador, a romper a aliança, a violar seus preceitos, a transgredir os preceitos do Senhor.

            Shagh. Outro termo que dá a ideia de desviar-se do caminho do Senhor é Shagh, conforme Levítico 4.13.

            Awon. Em 1 Reis 17.18 o termo é Awon e está associado a formas verbais, como cometer injurias, atos injustos.

Os termos mais usados no Novo Testamento

            Hamartia.    No Novo Testamento o principal termo grego para descrever o pecado é Hamartia (MT 1.21) que

também tem o sentido de errar o alvo. No Antigo Testamento é correspondido por chattath.

            Adikia (1 Co 6.8). Seu correspondente no Antigo Testaento é Awon. Expressa a ideia de atos injustos.

            Parabasis (Rm 4.15). Exprime a ideia de violação, transgressão, quebra de lei, rompimento de um pacto, seu correspondente no Antigo Testamento é pescha.

            Em suma o pecado exprime a latente ideia de desobediência (hb 2.2), Transgressão (Sl 51.2; Hb 2.2), Iniqüidade (51.2; MT 7,23), Mal, maldade, malignidade (PV 17.11; Rm 1.29), Perversidade (Pv 6.14;At 3.26), rebelião, rebeldia (1 Sm 15.23; Jr 14.7), engano (Sf 1.9; 2Ts 2.10), injustiça (Jr 22.13; Rm 1.18), erro, falta (Sl 19.12; Rm 1.27), impiedade (Pv 8.7; Rm 1.18), concupiscência (Is 57.5;1 Jo2.16), depravação (Ez 16.27,43,58), etc.

A extensão do pecado 

            Embora haja divergentes pontos de vista quanto a natureza e origem do pecado, o mesmo não acontece em relação a sua abrangência. Pois, entre os que admitem sua existência, poucos divergem quanto o fato de sua universalidade. O pecado não tem fronteiras, posto que, independente da região biogeográfica, condição econômica, situação política, Etc., toda a humanidade está marcada pelo pecado. A Sagrada Escritura assim pontifica esta realidade; Não há um justo, nem um sequer (Rm 3.10).

Sua abrangência no Antigo Testamento  

            Notadamente o pecado entrou no mundo pela atitude voluntaria do primeiro casal, no entanto, o efeito desta atitude não ficou restrito a Adão e Eva, pois, toda a humanidade herda de Adão a culpa do pecado. Fato notário em Genesis 6.6 onde lemos que a iniquidade generalizada do gênero humano provocou em Deus o arrependimento de haver criado o homem sobre a terra.

            Apesar da destruição em massa provocada pela justiça divina manifesta por meio do dilúvio, os descendentes daquele que foi agraciado pela complacência divina (Noé), prosseguiram em sua pecaminosidade. Davi, na sinceridade de seu coração, reconhece que em iniquidade foi formado, e que em pecado lhe concebeu sua mão (Sl 51.5). No Salmo 143,2, o mesmo salmista roga ao Senhor: “não entres em juízo com teu servo, porque á tua vista não se achará justo nenhum vivente”. O profeta Isaias enxergando pela ótica divina declara: Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele (Jesus) a iniquidades de nós todos.

  
Sua abrangência no Novo Testamento  

            Este caráter abrangente do pecado é enfatizado em Romanos 3.23 quando o apóstolo Paulo afirma: porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Explica Paulo: Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram (Rm 5.12). Com a desobediência de Adão o pecado e a morte passam a reinar de forma absoluta, e, se o pecado está no mundo, logo todos que vêem ao mundo estão afetados pela pecaminosidade e suas consequências. Mas seria justo Deus responsabilizar toda a humanidade pela desobediência de Adão? Quanto a esta questão, podemos fazer a seguinte analise:

            Não temos como negar que mesmo que não tivéssemos a culpa do pecado de Adão, pecamos querendo ou não, independentemente.

            Deus nos considera de pecados e pecadores, da mesma forma que Adão. Não é porque foi Adão quem pecou que estamos isentos da culpa, pois para Deus não há diferença.

            Não seria também injusto receber a justificação por intermédio de Cristo se não aceitarmos ser representados por Adão, pela sua pecaminosidade, somos também representados em Cristo, pela remissão dos pecados: “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de  muitos serão feitos justos” (Rm 5.19). Esta sublime equivalência destrói qualquer concepção de injustiça inferida dentro desta questão.

            O Senhor Jesus Cristo foi o único ser cuja natureza humana se impôs incorruptamente, conforme ler-se em Hebreus 7.26: Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecados e feito mais sublime do que os céus.

Os efeitos do pecado no ser humano

O pecado afeta a vontade 

            O pecado, qual fenômeno flagelativo tem alcançado todos os aspectos da natureza humana. O pecado afeta a capacidade humana de escolher, de se impelir para a ação, afirmação ou recusa, conforme se pode notar nas seguintes palavras do apóstolo Paulo: Porque o que faço, não aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço [...] De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim  (Rm 7.15-20).

Afeta o entendimento

            Em Gêneses 6.5, lemos [...] que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos era só má continuamente.    Este comportamento ímpio dos homens deve-se ao fato dos mesmos rejeitarem a correta compreensão de Deus. Seja por descuido ou por deliberada ignorância, os homens tem se deixado cegar pelo ‘deus deste século’, não dirigem suas vidas de acordo com a vontade do Senhor.

Afeta as afeições e as emoções

            A deliberada rejeição a verdade de Deus torna os homens entregues ás paixões infames, adúlteros e praticantes de toda degradante impureza sexual como o homossexualismo, ou ainda a impureza nas relações heterossexuais (prostituição), a toda busca desenfreada pelo prazer sexual (hedonismo). O texto Paulino de Romanos 1.24-27 considera a prática homossexual do homem e da mulher como a evidencia máxima da degeneração humana, resultante da imoralidade e do abandono da pessoa de Deus.

Afeta as palavras e comportamentos

            Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios (Mc 7.21).
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia. Idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisa semelhantes a estas ... (Gl 5.19-21).

            Estes efeitos maléficos do pecado trazem consequências desastrosas, pois, além dos danos a natureza humana, conforme já mencionados, o pecado gera a morte física, espiritual e eterna, conforme veremos:

Morte física

            Esta é a morte biológica, que independente da confissão de fé, todos (exceto os que forem arrebatados) passará. É o fim das atividades vitais do organismo e, consequência do pecado, pois o Senhor assim adverte ao homem: Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2.17). Quando Adão fracassa com o pecado, sua sentença é esta: No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás (Gn 3.19).

            O apóstolo Paulo entende que a morte é a consequência do pecado adâmico e que seu antídoto, constitui-se da justiça e graça de Cristo Jesus: Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo (Rm 5.17). Contudo, esta passagem não significa que os crentes não morrerão, apenas nos assegura que assim como Cristo provou a morte e triunfou sobre ela, nós também triunfaremos: Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro (1 Ts 4.16). Na verdade, a morte será o último inimigo a ser aniquilado: Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte (1 Co 15.26).

Morte espiritual 

            Contrastando Genesis 2.17: Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Com Genesis 5.5: E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos, e morreu. Percebe-se que a morte física não ocorreu imediatamente após sua transgressão. Portanto, o termo em ênfase (morrerás), Trata-se da separação entre Deus, a alma e o espírito, e, isto ocorre com o individuo fisicamente vivo, no entanto, morto (separado) em seus delitos e pecados: E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados (Ef. 2.1). Esta condição terrível permanece enquanto o indivíduo estiver separado de Deus.

  
Morte eterna 

            Esta é ainda mais terrível, ocorre de forma gradual. A morte física fundida a morte espiritual resulta na morte eterna.  Trata-se da separação eterna de Deus, onde o individuo já ressuscitado, embora em corpo de nojo e desprezo eterno (Dn 12.2) estará perenemente lançado no sofrimento do inferno. Esta terrível situação é ainda chamada de segunda morte: Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte. (Ap 21.8). Não haverá mais saída.

Conclusão 

            Diante do exposto nota-se que nada existente na humanidade há, que possa estender sua história além da criação e queda. “mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2:1), não podemos prolongar nossa autobiografia, como também não nos é possível efetuar nossa própria ressurreição.

            A extensão de nossa história para além de nossa queda é inteiramente devida ao milagre da graça de Deus. Pela encarnação, Deus uniu-se á existência humana e moveu-se no espaço e no tempo como nosso parceiro humano. Paulo descreveu Jesus como o último ou o segundo Adão (Rm 5:12 ss, 1 Co 15:22,47ss), através de quem a situação do Éden é recuperada; aqui, de novo, está alguém que fica diante de Deus em plena humanidade, sem pecado, o verdadeiro homem, no sentido original da palavra.

            Embora a Bíblia não apresente uma biografia completa de Jesus, existe material suficiente nos evangelhos para que observemos a perfeição de sua humanidade, expressa em todos os aspectos da antropologia.  Foi este ato gracioso de Deus que nos possibilitou estar novamente em comunhão com Ele.
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Obs:... As sugestões bibliográficas para este texto, constam nos módulos  de nosso curso teológico www.abtac.com.br  
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