Por natureza do
pecado, segundo se diz, se entende como sendo “qualquer falta que fere a
santidade de Deus”, quer em ato, atitude ou estado, ou natureza. As Escrituras
põem em relevo dois pontos principais ou qualidades morais: a santidade e seu
antagonista, o pecado. Pode se dizer que, na esfera moral, o primeiro
corresponde ao bem e o segundo ao mal. Todos os demais princípios e qualidades
morais podem ser classificados de maneira a se identificar com um desses dois
grupos. E por isso mesmo o pecado, como sua “antítese”, recebe na bíblia
atenção ampla e adequada. Em seu escopo geral, sem nenhuma exceção, as
Escrituras descrevem o pecado como sendo de natureza má em todos os seus
aspectos.
A ideia bíblica do pecado
A Bíblia se
utiliza de diversos termos para referir-se ao pecado, dentre os mais comuns
destacamos os seguintes:
Os termos mais usados no Antigo Testamento
Chattath. A
palavra usada com muita frequência no Antigo Testamente é chattath conforme
pode ser visto em Êxodo 32.30, seu termo correspondente no Salmo 51.9 é chet.
Este termo pode ser visto centenas de vezes em todo Antigo
Testamento e expressa a ideia de errar o alvo, como arqueiro
que atira mas erra, ou ser achado em
falta, ou ainda um viajante que erra o caminho. Geralmente usado para expressar
o pecado no âmbito moral.
Pescha. Outro
termo usado para descrever o pecado é pescha e pode ser visto em Provérbio
28.13 expressando a ideia de rebelião ativa contra a vontade de Deus. E esta é
a proposta do pecado, levar a humanidade a se opor a seu Criador, a romper a
aliança, a violar seus preceitos, a transgredir os preceitos do Senhor.
Shagh. Outro termo
que dá a ideia de desviar-se do caminho do Senhor é Shagh, conforme Levítico
4.13.
Awon. Em 1 Reis
17.18 o termo é Awon e está associado a formas verbais, como cometer injurias,
atos injustos.
Os termos mais usados no Novo Testamento
Hamartia. No Novo Testamento o principal termo grego
para descrever o pecado é Hamartia (MT 1.21) que
também tem o sentido de errar o alvo. No Antigo Testamento é
correspondido por chattath.
Adikia (1 Co
6.8). Seu correspondente no Antigo Testaento é Awon. Expressa a ideia de atos
injustos.
Parabasis (Rm
4.15). Exprime a ideia de violação, transgressão, quebra de lei, rompimento de
um pacto, seu correspondente no Antigo Testamento é pescha.
Em suma o pecado
exprime a latente ideia de desobediência (hb 2.2), Transgressão (Sl 51.2; Hb
2.2), Iniqüidade (51.2; MT 7,23), Mal, maldade, malignidade (PV 17.11; Rm
1.29), Perversidade (Pv 6.14;At 3.26), rebelião, rebeldia (1 Sm 15.23; Jr
14.7), engano (Sf 1.9; 2Ts 2.10), injustiça (Jr 22.13; Rm 1.18), erro, falta (Sl
19.12; Rm 1.27), impiedade (Pv 8.7; Rm 1.18), concupiscência (Is 57.5;1
Jo2.16), depravação (Ez 16.27,43,58), etc.
A extensão do pecado
Embora haja
divergentes pontos de vista quanto a natureza e origem do pecado, o mesmo não
acontece em relação a sua abrangência. Pois, entre os que admitem sua
existência, poucos divergem quanto o fato de sua universalidade. O pecado não
tem fronteiras, posto que, independente da região biogeográfica, condição
econômica, situação política, Etc., toda a humanidade está marcada pelo pecado.
A Sagrada Escritura assim pontifica esta realidade; Não há um justo, nem um
sequer (Rm 3.10).
Sua abrangência no Antigo Testamento
Notadamente o
pecado entrou no mundo pela atitude voluntaria do primeiro casal, no entanto, o
efeito desta atitude não ficou restrito a Adão e Eva, pois, toda a humanidade
herda de Adão a culpa do pecado. Fato notário em Genesis 6.6 onde lemos que a
iniquidade generalizada do gênero humano provocou em Deus o arrependimento de
haver criado o homem sobre a terra.
Apesar da
destruição em massa provocada pela justiça divina manifesta por meio do
dilúvio, os descendentes daquele que foi agraciado pela complacência divina
(Noé), prosseguiram em sua pecaminosidade. Davi, na sinceridade de seu coração,
reconhece que em iniquidade foi formado, e que em pecado lhe concebeu sua mão
(Sl 51.5). No Salmo 143,2, o mesmo salmista roga ao Senhor: “não entres em
juízo com teu servo, porque á tua vista não se achará justo nenhum vivente”. O
profeta Isaias enxergando pela ótica divina declara: Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez
cair sobre ele (Jesus) a iniquidades de nós todos.
Sua abrangência no Novo Testamento
Este caráter
abrangente do pecado é enfatizado em Romanos 3.23 quando o apóstolo Paulo
afirma: porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Explica
Paulo: Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos
pecaram (Rm 5.12). Com a desobediência de Adão o pecado e a morte passam a
reinar de forma absoluta, e, se o pecado está no mundo, logo todos que vêem ao
mundo estão afetados pela pecaminosidade e suas consequências. Mas seria justo
Deus responsabilizar toda a humanidade pela desobediência de Adão? Quanto a
esta questão, podemos fazer a seguinte analise:
Não temos como
negar que mesmo que não tivéssemos a culpa do pecado de Adão, pecamos querendo
ou não, independentemente.
Deus nos
considera de pecados e pecadores, da mesma forma que Adão. Não é porque foi
Adão quem pecou que estamos isentos da culpa, pois para Deus não há diferença.
Não seria também
injusto receber a justificação por intermédio de Cristo se não aceitarmos ser
representados por Adão, pela sua pecaminosidade, somos também representados em
Cristo, pela remissão dos pecados: “Porque, como pela desobediência de um só
homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de muitos serão feitos justos” (Rm 5.19). Esta
sublime equivalência destrói qualquer concepção de injustiça inferida dentro
desta questão.
O Senhor Jesus
Cristo foi o único ser cuja natureza humana se impôs incorruptamente, conforme
ler-se em Hebreus 7.26: Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo,
inocente, imaculado, separado dos pecados e feito mais sublime do que os céus.
Os efeitos do pecado no ser humano
O pecado afeta a vontade
O pecado, qual
fenômeno flagelativo tem alcançado todos os aspectos da natureza humana. O
pecado afeta a capacidade humana de escolher, de se impelir para a ação,
afirmação ou recusa, conforme se pode notar nas seguintes palavras do apóstolo
Paulo: Porque o que faço, não aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o
que aborreço, isso faço [...] De maneira que, agora, já não sou eu que faço
isto, mas o pecado que habita em
mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar
o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.
Ora, se faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em
mim (Rm 7.15-20).
Afeta o entendimento
Em Gêneses 6.5,
lemos [...] que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a
imaginação dos pensamentos era só má continuamente. Este comportamento ímpio dos homens deve-se ao fato dos mesmos
rejeitarem a correta compreensão de Deus. Seja por descuido ou por deliberada
ignorância, os homens tem se deixado cegar pelo ‘deus deste século’, não
dirigem suas vidas de acordo com a vontade do Senhor.
Afeta as afeições e as emoções
A deliberada
rejeição a verdade de Deus torna os homens entregues ás paixões infames,
adúlteros e praticantes de toda degradante impureza sexual como o
homossexualismo, ou ainda a impureza nas relações heterossexuais
(prostituição), a toda busca desenfreada pelo prazer sexual (hedonismo). O
texto Paulino de Romanos 1.24-27 considera a prática homossexual do homem e
da mulher como a evidencia máxima da degeneração humana, resultante da
imoralidade e do abandono da pessoa de Deus.
Afeta as palavras e comportamentos
Porque do
interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as
prostituições, os homicídios (Mc 7.21).
Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:
prostituição, impureza, lascívia. Idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices,
glutonarias e coisa semelhantes a estas ... (Gl 5.19-21).
Estes efeitos
maléficos do pecado trazem consequências desastrosas, pois, além dos danos a
natureza humana, conforme já mencionados, o pecado gera a morte física,
espiritual e eterna, conforme veremos:
Morte física
Esta é a morte
biológica, que independente da confissão de fé, todos (exceto os que forem
arrebatados) passará. É o fim das atividades vitais do organismo e,
consequência do pecado, pois o Senhor assim adverte ao homem: Mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela
comeres, certamente morrerás (Gn 2.17). Quando Adão fracassa com o pecado, sua
sentença é esta: No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à
terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás (Gn 3.19).
O apóstolo Paulo
entende que a morte é a consequência do pecado adâmico e que seu antídoto,
constitui-se da justiça e graça de Cristo Jesus: Porque, se pela ofensa de um
só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e
do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo (Rm 5.17). Contudo,
esta passagem não significa que os crentes não morrerão, apenas nos assegura
que assim como Cristo provou a morte e triunfou sobre ela, nós também
triunfaremos: Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de
arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão
primeiro (1 Ts 4.16). Na verdade, a morte será o último inimigo a ser
aniquilado: Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte (1 Co
15.26).
Morte espiritual
Contrastando
Genesis 2.17: Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás;
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Com Genesis 5.5: E
foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos, e morreu.
Percebe-se que a morte física não ocorreu imediatamente após sua transgressão.
Portanto, o termo em ênfase (morrerás), Trata-se da separação entre Deus, a
alma e o espírito, e, isto ocorre com o individuo fisicamente vivo, no entanto,
morto (separado) em seus delitos e pecados: E vos vivificou, estando vós mortos
em ofensas e pecados (Ef. 2.1). Esta condição terrível permanece enquanto o
indivíduo estiver separado de Deus.
Morte eterna
Esta é ainda mais
terrível, ocorre de forma gradual. A morte física fundida a morte espiritual
resulta na morte eterna. Trata-se da
separação eterna de Deus, onde o individuo já ressuscitado, embora em corpo de
nojo e desprezo eterno (Dn 12.2) estará perenemente lançado no sofrimento do
inferno. Esta terrível situação é ainda chamada de segunda morte: Mas, quanto
aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos
fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua
parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte. (Ap
21.8). Não haverá mais saída.
Conclusão
Diante do exposto
nota-se que nada existente na humanidade há, que possa estender sua história
além da criação e queda. “mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2:1), não
podemos prolongar nossa autobiografia, como também não nos é possível efetuar
nossa própria ressurreição.
A extensão de
nossa história para além de nossa queda é inteiramente devida ao milagre da
graça de Deus. Pela encarnação, Deus uniu-se á existência humana e moveu-se no
espaço e no tempo como nosso parceiro humano. Paulo descreveu Jesus como o
último ou o segundo Adão (Rm 5:12 ss, 1 Co 15:22,47ss), através de quem a
situação do Éden é recuperada; aqui, de novo, está alguém que fica diante de
Deus em plena humanidade, sem pecado, o verdadeiro homem, no sentido original
da palavra.
Embora a Bíblia
não apresente uma biografia completa de Jesus, existe material suficiente nos
evangelhos para que observemos a perfeição de sua humanidade, expressa em todos
os aspectos da antropologia. Foi este
ato gracioso de Deus que nos possibilitou estar novamente em comunhão com Ele.
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Obs:... As sugestões bibliográficas para este texto, constam nos módulos de nosso curso teológico www.abtac.com.br